Mais um dia, mais um homem ao mar. 100 anos neste barco nós, marinheiros, bohemios, amantes do inexistente existimos. Pelo chão de madeira velha e barulhenta andamos. Vendo tudo que é azul e lindo se tornar fatal com a morte do sol, nossa maior paixão se torna perigosa: A noite. Ela sendo a nossa única companheira nos lembra de amores antigos, amigas, namoradas, filhas, mulheres. Com isso em mente a nostalgia se torna insuportável.
Vou te contar a história de um velho companheiro, que se jogou ao mar anos atrás. Ismael, 26 anos com uma barba grande como sua apetite pela vida antes de se tornar mais uma alma neste barco sem rumo. Conheci ele quando tinhamos ambos 22 anos, um bar confiscado pelos pensamentos depravados da juventude dinamarquesa. Ele entrou como se tivesse me procurando, sempre fui alguém feito pra escutar as histórias humanas. Comprei uma cerveja pra ele e Ismael contou:
Quando era jovem, 17 anos. Conheci uma garota linda de Helsinki, com um cabelo semelhante as profundesas do nosso próprio mar frio. O nome dela era Helenna, e ela me trouxe a maior felicidade que já conheci nessa vida, talvez a última. No começo eramos apenas amigos, uma conversa qualquer na porta da casa dos pais toda vez que ia entregar as contas deles, todas escritas à mão pelo meu pai (ele tinha muito orgulho de sua forma bela de escrever). Infelizmente somos só humanos, e a amizade se tornou mais do que só isso. Por chance encontrei ela no parque (sempre ia lá todos os domigos pra apreciar a natureza do nosso querido país), ela me contou sobre coisas que eu não me lembro muito bem pois não prestava atenção com tanto nervosismo na minha cabeça e acabei por matando a literatura que era a voz dela com "Que tempo ruim que anda tendo esses dias, não?".
Não foi a melhor escolha de palavras pois ela me pareceu um tanto irritada com isso, e ficou calada. Uns 5 minutos se passaram com um silencio costrangedor até ela me dizer "está frio, vou embora". E assim foi como começou tudo:
"Lhe dou meu casaco, não vá tão cedo."
"Não precisa, vai ficar com frio e ficarei com calor, me parece injusto."
"Então eu tiro meu casaco, podemos ficar com frio juntos."
"Não seja tolo isso não faz o menor sentido, devo ir."
"Fique por favor."
"Por que toda essa insistencia em minha presença?"
"Sou direto, sempre fui e vou ser agora: Por que te amo."
Demorou pra notar o que tinha dito, apesar que nessa hora já era muito tarde. Ela ficou vermelha com o que me parecia vergonha, e eu também. Ela se sentou, e ficou olhando pro chão. Já eu fiquei olhando pro lado brincando com meu anél entre os dedos de tanto nervosismo continuo. Passaram se 30 minutos, ninguém falou nada. Ela se levantou e começou uma caminhada lenta pra casa, enquanto eu fiquei. Um homem perguntou a hora, e depois de um tempo um cachorro sem dono se sentou ao meu lado. Tinhamos o mesmo sentimento naquela hora, mal eu sabia que com o passar do tempo melhor seria ter trocado almas com o canino.. E fui pra casa quando o sol já estava quase morto.
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