Hola querida, desejo lhe responder à pergunta que me fez na festa mês passado, aquela no Rio com nossos queridos amigos do peito. Você queria saber por que andava tão confuso, tão estranho, tão aparentemente fraco? Sim pois, eis a resposta que vou lhe dar, e talvez a honestidade das palavras seja muita, mas conhecendo você não vai ser suficiente.
Desde que partiu, o amor me deu as costas, junto com meu juízo. Então tento seguir qualquer caminho, pra ver se consigo achar pistas pra onde foi o meu amor, ou pelo menos o bom senso por qual sou tão bem conhecido. Sigo tudo bem assim, no batuque lento e "à lá Bossa" do meu coração. Talvez um dia acho, ou quem sabe, talvez não. Só sei que por estas razões não consigo ser o mesmo, ter o mesmo sorriso no rosto que simplesmente diz "e que venha a vida, com tudo" como antigamente.
Se te deixa triste isso, talvez lhe conforte se dizer que continuo nos meus desenhos. Mesmo que sejam milhares e milhares de páginas com rabiscos todos querendo reconstituir uma parte de quem eu nunca mais vou ser sem você. O que me resta além de uma caneta cheia de tinta ao lado de um papél na minha mesa da sala, talvez sejam as festas dos nossos amigos, aonde talvez fico bêbado o suficiente pra cometer qualquer burrice que tire de mim uma dor que não mereço. Ou talvez, quem sabe, mereço sim.
Você não vai achar graça, eu vou: continuo com meus hábitos, fumando como uma chaminé, sentado na mesma cadeira do restaurante paulista assistindo os jogos do Santos todos os domingos tomando dose de Cuervo. Você sempre disse que isso era estúpido, e eu sempre disse que era a única coisa que me fazia lembrar que também sou humano como todos os outros. Por isso quando mandar esta carta pra você vou rir quando pensar na sua cara de raiva quando ler esta parte.
Caso esteja curiosa, ainda tenho sim minha casa no México. Ao contrário do que sempre lhe dizia antes do nosso romance, as mexicanas não me encantam. Receio em lhe dizer que depois que qualquer homem neste mundo tem você, ele não quer mais ninguém. E se te perde, fica sem saber se quer viver. Como se estivesse no lugar de um caiçara que perdeu as mãos, qual é seu destino agora? De qualquer forma continuei, tonto de tanto beber e um tanto cego pela fumaça do meu próprio cigarro? Sim. Mas mesmo assim fui caminhando.
Cheguei no meu destino tão querido? Sim. Mas cheguei como você pensa: Confuso sobre o que vem depois de tudo isso, estranhando tudo e todos em volta de mim, e enfraquecido por ter gasto todas as minhas forças tirando você da minha cabeça pelos últimos 20 anos. E mesmo assim você nunca saiu. Não reclamo. Enfim, o que seria da vida do artista sem um pouco de dor?
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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